O dólar ronda estabilidade nesta quinta-feira (17), com o real favorecido por um fluxo de investimentos ligados aos juros altos no Brasil e à busca de investidores por mercados ligados às commodities, cujos preços estão subindo. A tensão na Ucrânia, menor do que nos últimos dias, também ajuda o movimento.
Por volta das 9h24, a moeda norte-americana subia 0,06%, a R$ 5,131. O contrato futuro de dólar de primeiro vencimento negociado na B3 caía 0,08%, a R$ 5,132.
Na quarta-feira (16), o dólar caiu 0,99%, cotado a R$ 5,129, menor valor desde 29 de julho de 2021. Já o Ibovespa teve alta de 0,31%, aos 115.180,95 pontos – o maior patamar desde 14 de setembro de 2021.
Exterior
A possibilidade de uma invasão da Ucrânia pela Rússia perdeu força nos últimos dias após uma escalada na última sexta-feira (11). O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que algumas tropas localizadas próximas à Ucrânia estão retornando para suas bases, mas países ocidentais contestam essa versão e dizem que os números na fronteira estão aumentando.
Mesmo assim, uma possibilidade maior de invasão da Ucrânia pela Rússia – com uma resposta dos Estados Unidos e aliados – aumentaria a aversão a riscos dos investidores e levaria à busca pelo dólar.
O cenário ainda não supera, porém, os benefícios para o real e para o Ibovespa de um ciclo de migração de investimentos para mercados ligados a commodities, com o Brasil beneficiado também pelos juros altos, que limita os efeitos das apostas em uma política de alta de juros agressiva pelo Federal Reserve.
O ciclo está ligado, em partes, a expectativas de mais medidas pró-crescimento na China, enquanto pressões econômicas baixistas persistem, estão aumentando as esperanças de uma recuperação na demanda por metais, disseram analistas, o que leva a altas nos preços.
No caso do petróleo, analistas do Goldman Sachs afirmam que os preços do petróleo Brent devem superar os US$ 100 por barril neste ano. Segundo eles, o mercado de petróleo continua em um “déficit surpreendentemente grande” já que o efeito da variante Ômicron do coronavírus na demanda pela commodity é, até agora, menor do que o que era esperado. Além disso, as tensões na Ucrânia fazem os preços subirem, já acima dos US$ 90.
Outro fator que pesa nesse movimento é a expectativa de alta de juros nos Estados Unidos já no mês de março, de 0,5 ponto percentual, reforçada por dados de inflação levemente acima do esperado e de queda nos pedidos de auxílio-desemprego divulgados na quinta-feira.
Com isso, investidores estrangeiros têm saído do mercado de ações norte-americano e migrado para outros vistos como mais resilientes ou baratos.
Com a inflação americana batendo recorde em quatro décadas, o Fed vem dando indicações mais duras aos mercados, mas a ata da última reunião do banco não deixou claro o tamanho e ritmo do aperto que o banco central americano fará, indicando que as decisões ocorrerão a cada reunião pelo contexto econômico.
Qualquer alta de juros no país pode afetar os investimentos no Brasil, já que torna os títulos do Tesouro norte-americano ainda mais atrativos para os investidores, pressionando negativamente o real.
Brasil
No radar dos investidores também está a chamada PEC dos Combustíveis, que permitiria a suspensão de impostos para esses produtos. Representando um possível descontrole de gastos, o tema tem potencial para afetar negativamente o real e o Ibovespa.
Duas PECs já foram protocoladas, uma no Senado e outra na Câmara, com cálculos de perda de arrecadação indo de R$ 18 bilhões até R$ 100 bilhões dependendo do conteúdo, mas o foco no momento são dois projetos de lei sobre o tema que podem ser votados na próxima semana.
Um dos PLs determina um valor fixo de cobrança do ICMS para combustíveis, com o tributo estadual deixando de variar seguindo flutuações de preço do produto, e expande o chamado vale-gás para famílias brasileiras.
Já o outro criaria um fundo de estabilização do preço do petróleo e derivados (diesel, gasolina e GLP), com uma nova política de preços internos de venda para distribuidores.
O Banco Central fará neste pregão leilão de até 15 mil contratos de swap cambial tradicional para rolagem do vencimento de 1° de abril de 2022.
*Com informações da Reuters