A polícia canadense, que mobilizou um grande contingente nesta quinta-feira (17) nas ruas de Ottawa, se prepara para intervir de forma "iminente" para desocupar as vias bloqueadas há quase três semanas por manifestantes contrários às medidas sanitárias, um protesto que deixou de ser "pacífico", nas palavras do premiê Justin Trudeau.
"Estamos prontos para agir para expulsar os manifestantes ilegais de nossas ruas", disse em coletiva de imprensa o chefe interino da polícia da capital canadense, Steve Bell.
"Se quiserem sair por conta própria, agora é a hora", alertou Bell aos manifestantes, advertindo que o fim de semana que se aproxima será "bem diferente dos três anteriores".
A cidade de Ottawa, a província de Ontário e todo o Canadá estão em estado de emergência devido a esse movimento de protesto sem precedentes, que partiu da oposição dos caminhoneiros em se vacinar contra a Covid-19 para atravessar a fronteira com os EUA e depois se estendeu contra o conjunto de medidas sanitárias e o governo canadense.
Nesta quinta-feira, pela primeira vez desde o início dos protestos, centenas de policiais se posicionaram durante a manhã em torno dos manifestantes e das centenas de caminhões que bloqueiam as ruas de Ottawa.
"Estamos prontos para agir para expulsar os manifestantes ilegais de nossas ruas", reiterou o chefe de polícia, ao explicar que um perímetro de segurança foi instalado em torno do centro da cidade e que cerca de 100 pontos de controle permitem restringir o acesso à região.
Porém, nas ruas, os manifestantes seguiam desafiantes, tocando trombetas, com a bandeira canadense nas costas, ou hasteada em um taco de hóquei. Cerca de 400 caminhões ainda ocupam as ruas do centro de Ottawa e muitos caminhoneiros retiraram os pneus de seus veículos para dificultar sua remoção.
O movimento não é mais "pacífico", disse Trudeau em discurso durante um debate histórico na Câmara dos Comuns sobre a implementação da lei de medidas emergenciais, um dispositivo excepcional que só havia sido acionado uma vez na história do Canadá em tempos de paz.
"O objetivo de todas as medidas, incluindo as financeiras, previstas na Lei de Emergências é enfrentar a ameaça atual e controlar totalmente a situação", disse o premiê.
Em uma carta endereçada na noite de quarta-feira (16) aos primeiros-ministros provinciais, Trudeau disse que o movimento de protesto "ameaça a democracia" e mina "a reputação do Canadá no exterior".
As "contas bancárias de pessoas e empresas" vinculadas à paralisação foram congeladas, informou a ministra de Finanças e vice-primeira-ministra do Canadá, Chrystia Freeland, em entrevista coletiva.
Por sua vez, o ministro de Segurança Pública, Marco Mendicino, classificou a situação de "precária" e calculou que os "bloqueios fronteiriços ilegais" provocam prejuízos de bilhões de dólares à economia canadense.
Os manifestantes, determinados a permanecer "até o fim", receberam na quarta-feira um ultimato da polícia, que cercou os caminhões para entregar um panfleto ordenando que eles "saíssem do local".
"Eles estão tentando assustar as pessoas para que não venham neste fim de semana", disse à AFP o motorista de caminhão Kevin Veurink, de 39 anos, em reação à instalação de barricadas em torno do Parlamento.
Com o lema "Juntos pela Liberdade" em suas costas, este homem que carregava um carrinho com latas de gasolina indicou que estava pronto para ficar "até que nos prendam, se isso acontecer".
O mal tempo, a chuva da manhã e a neve prevista para os próximos dias poderiam dificultar as ações da polícia, que enfrenta uma situação complexa e perigosa para expulsar os manifestantes das ruas de Ottawa.
As forças de segurança temem pela presença de "elementos radicais" e também de muitas crianças na manifestação, incluindo bebês.
Uma das organizadoras do "Comboio da Liberdade", Tamara Lich, disse que esperava ser presa. "Acho que é inevitável neste momento", disse em um vídeo postado nas redes sociais.