O rastro de tristeza e destruição perserguem a líder comunitária e moradora da comunidade de Santa Isabel, em Petrópolis, Andrea Vieira Areas, de 52 anos, há três dias. E ela não consegue nem imaginar a dimensão da tragédia caso as chuvas provoquem novos deslizamentos e quedas de barreiras nos próximos dias - como alerta a Defesa Civil municipal para o risco de chuva forte. "Estou aqui no meio do barro, da lama, não se vê nada", diz.
A líder comunitária decidiu ajudar as equipes do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil e dos voluntários da região com o transporte de água e alimentos, já que a região está ilhada nesse momento e sem acesso à qualquer tipo de transporte que garanta a chegada de mantimentos às equipes no local.
Pelo menos 104 pessoas morreram vítimas das chuvas mais intensas dos últimos 90 anos em Petrópolis, conhecida como a antiga cidade imperial, onde moradores, equipes de resgate e autoridades travam uma corrida contra o tempo para encontrar sobreviventes debaixo da lama e dos escombros e dar assistência aos desalojados.
"Estou ajudando a divulgar informações que chegam pelo celular aos moradores. Ajudo pessoas que querem trazer água, quentinhas, marmitas. Chamo minhas amigas pra buscar água, comida e doações. Estou carregando as coisas para quem está trabalhando nas barreiras, a equipe dos Bombeiros e mais uns 10 moradores nessa região."
Além do medo de novas mortes, Andrea afirma que os moradores do bairro de Caxambu, a 7 quilômetros de distância do bairro Alto da Serra, um dos mais afetados pelo temporal, temem que mais chuvas deixem os bairros ainda mais ilhados e sem acesso a água, energia e alimentos que vem, principalmente, do centro da cidade.
"Não sei como aconteceu essa tragédia toda. Foi tudo muito grande, fiquei em choque. Ainda não consegui chorar", afirma Andrea. Sou líder porque eu amo as pessoas e o meu bairro, mas me sinto muito impotente em não conseguir dar a eles uma condição melhor nesse momento. Tenho que lidar com a comunidade, com o serviço público, tento dar explicação sobre o porque os serviços não chegam para a gente, mas é muito difícil."
Enquanto concedia entrevista, Andreia foi interropida para ser avisada que a filha de seu primo, de sete anos, foi encontrada sem vida sob os escombros. "Meu primo estava trabalhando quando a esposa dele, Juliana Rufino, de 25 anos, ligou para avisar que a chuva estava forte e que ela estava com medo do que poderia acontecer", relata. "Ela não conseguiu nem terminar de falar, a ligação foi interrompida."
Segundo a líder comunitária, o primo Abel Pimenta, de 46 anos, perdeu a mulher e duas filhas, Helena, de três anos, e Sofia, de sete, soterradas após uma barreira ceder e destruir a casa em que viviam na comunidade de Caxambu, em Petrópolis. "Quando ele chegou já havia a tragédia. Acharam a menina de três anos ontem a noite, a mãe foi encontrada hoje de manhã e agora a Sofia foi localizada pelos Bombeiros."
Segundo Andrea, o primo Abel entrou em estado de choque com a ligação da mulher, deixou o trabalho e voltou para casa para reencontrar a família. "Hoje, estamos dando apoio psicológico a ele. Ele estava aqui esperando para ver se encontravam a filhinha", afirma a líder comunitária. "Tem hras que ele consegue conversar e tem horas que ele desaba. Ele perdeu tudo, tudo sumiu."
Andrea trabalha como presidente da Associação de Moradores da comunidade de Santa Isabel, no bairro de Caxambu, em Petrópolis. Na terça-feira (15), começou a receber mensagens pelo celular de moradores avisando sobre os deslizamentos de barreiras. "Minha prima me avisou que uma barreira caiu sobre a casa do meu primo. A lama derrubou poste de luz, ninguém tem internet. Lá em Santa isabel não tem luz, sinal de celular, nada."
"Tento ajudar as famílias, mas também fico sem palavras, me certifico que estão se alimentando bem e deixo eles à vontade para chorar."