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ÁUDIO: 'Trancou a gente no quarto, dizendo que ia matar', diz homem que conseguiu fugir de alojamento no RS

'Trancou a gente no quarto, dizendo que ia matar', relata trabalhador resgatado no RS

Um áudio obtido pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) deu início às investigações sobre o caso que culminou com o resgate de mais de 200 trabalhadores em condições semelhantes à escravidão em Bento Gonçalves, na Serra do Rio Grande do Sul. O pedido por ajuda, gravado por um dos homens que conseguiu fugir do alojamento, foi o estopim para a operação conjunta entre PRF, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Ministério Público do Trabalho (MPT). Ouça o áudio acima.

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''Agora de noite, eles entraram no quarto, trancou a gente e botou spray de pimenta no rosto. Nos espancaram com cadeira, me deram choque. Eu estou aqui todo quebrado", relata o homem.

"Trancou a gente no quarto, dizendo que ia matar a gente. A gente fugiu pela janela, a gente está dentro do mato escondido aqui. Estamos pedindo socorro", continua.

O pedido de socorro foi gravado por um dos trabalhadores e enviado por um aplicativo de mensagens instantâneas a alguns conhecidos dele na Bahia.

Conforme o chefe da Delegacia da PRF em Caxias do Sul, Jonatas Josué Nery, o áudio chegou até uma unidade da PRF, que iniciou contatos e buscas pela região, até encontrá-los próximos da rodoviária do município.

"Eles estavam bastante reticentes em conversar conosco. Eles não queriam contato com nenhum órgão policial, por receio e pelas ameaças que sofreram. Até porque aqueles que tratavam com eles nessa espécie de pousada se diziam policiais e afirmavam ter o apoio das forças policiais do município", relembrou o agente federal em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira (1º).

Em depoimento aos órgãos de fiscalização, vários relatos de empregados davam conta de que eles eram extorquidos, ameaçados, agredidos e torturados com choques elétricos e spray de pimenta.

''A maioria foi espancado, humilhado, várias coisas aconteceram aqui. Fui violentado no banheiro, me bateram. Cheguei lá e nós comíamos comida azeda. Nós trabalhávamos demais, trabalho escravo. Lá, eles estavam em posse de armas, ameaçando nós. Teve gente que tomou até tiro de bala de borracha", conta um trabalhador alojado no ginásio Darcy Pozza após o resgate.

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Alojamento onde trabalhadores foram resgatados em Bento Gonçalves — Foto: Reprodução/RBS TV

A empresa

O empresário Pedro Augusto Oliveira de Santana, responsável pela contratação dos trabalhadores terceirizados que foram resgatados do trabalho análogo à escravidão em Bento Gonçalves, já foi autuado por irregularidades trabalhistas – entre elas, alojamentos para trabalhadores que foram interditados.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Santana tinha outra empresa, criada em 2012, chamada Oliveira & Santana, que foi autuada 10 vezes por irregularidades trabalhistas.

Os alojamentos onde os trabalhadores ficavam também chegaram a ser interditados. Apesar disso, nenhuma situação análoga à escravidão foi flagrada. A empresa chegou a ter 206 funcionários e fechou em 2019.

Na semana passada, 207 trabalhadores foram resgatados de um alojamento mantido pela Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde LTDA, empresa mantida por Santana que oferecia mão de obra para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região.

O advogado Augusto Werner informa que assumiu a defesa de Pedro Augusto Oliveira de Santana e da Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde LTDA na terça-feira (28) e fará uma reunião com o representante anterior para se inteirar dos fatos antes de divulgar um posicionamento.

Rafael Dorneles da Silva informou que "a empregadora Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde LTDA e seus administradores esclarecem que os graves fatos relatados pela fiscalização do trabalho serão esclarecidos em tempo oportuno, no decorrer do processo judicial".

Conforme o MTE, a Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde LTDA foi criada em janeiro de 2019. Ela está em nome de uma mulher, e Santana trabalhava como administrador.

De acordo com Ana Lúcia Stumpf González, procuradora do trabalho em Caxias do Sul, a mulher no nome de quem está registrada a empresa é uma funcionária de Santana. O endereço em que a empresa diz estar sediada é de uma igreja, o que ainda está em investigação pelo MPT.

O empresário de 45 anos, natural de Valente, na Bahia, chegou a ser preso, mas vai responder pelo crime em liberdade porque pagou fiança no valor de R$ 40 mil.

Sobre Santana, o MTE disse que ele atua em Bento Gonçalves há cerca de 10 anos, sempre contratando pessoas, inclusive de outros estados, para trabalhos nas colheitas de frutas, em aviários e de carga e descarga. Os serviços eram oferecidos para vinícolas e produtores rurais, tudo com nota fiscal.

A Fênix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde LTDA não havia sido fiscalizada pelo MPT até a operação de resgate dos trabalhadores.

Trabalhadores resgatados em situação semelhante à escravidão em Bento Gonçalves — Foto: Reprodução/RBS TV

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